sexta-feira, 23 de março de 2012

CODEX WAMPYR



        CODEX  VAMPYR


 Adventure seed: Várias pessoas estão desaparecendo na cidade onde os PCs moram. Um deles é abordado sobre um investigador por o sumiço de um vizinho. Dias depois, o investigador desaparece e, pelo correio, o PC recebe esse documento, enviado por ele um dia antes de sua morte...



Vampiros – origem, propósitos e caráter:

Vampiros são, basicamente, cadáveres reanimados por forças malignas que tornam-se capazes de perambular novamente entre os vivos, assumindo uma aparência de vida e alguns poderes incomuns, bem como algumas fraquezas incomuns. A maior destas fraquezas, porém, é justamente a maior desgraça causada por sua presença sobre as pessoas naturais. Eles necessitam de sangue para se manterem ativos, poderosos e com a devida aparência de um ser vivo.


Muito se debateu até hoje sobre o quanto resta da personalidade original do morto, tendo como base a presença ou não da alma original naquele corpo. Há quem sustente de que sejam, basicamente, almas penadas, impedidas de descansar por maldição dos céus e da terra, posto que quase invariavelmente vampiros foram em vida pessoas cruéis, praticantes de todo o vício e de todo o crime  que se conhece. Há outros que sustentam, porém, que a alma original do cadáver em questão não se encontra mais ali presente, estando destruída, no inferno, ou então a vagar entre as orbes do  universo em busca de redenção. O que animaria o cadáver seria a própria essência do mal dotada de alguma inteligência. Um demônio, por assim dizer, de conhecimento limitado sobre o mundo material, que utiliza-se das memórias e talentos que restam no cérebro do cadáver para sobreviver entre nós. O caráter instintivo, beirando o delírio e a loucura, de muitos destes desmortos, e a predisposição quase universal para ignorar com prazer qualquer amizade ou amor terrenos na busca por seus intentos horrendos parece corroborar esta hipótese. Somado ao fato de que muitos dos cadáveres recém-reanimados por esta maldição parecem agir mais por astúcia animalesca do que propriamente por raciocínio, e apresentem fala incoerente e maneirismos diferentes dos do morto, como se estivessem, aos poucos, experimentando este mundo e esta forma de agir.
Há três formas de se tornar um vampiro, no que tange às lendas tradicionais e experiências comprovadas por aqueles que os combatem:


Pacto com o demônio : O indivíduo em questão buscou o contato com forças das trevas e vendeu-se a elas, seduzido pelo poder que a condição de vampiro significaria (se verá mais sobre isso adiante), tornando-se seu servidor e inimigo dos poderes do bem. Para ser aceito como integrante das legiões infernais, a pessoa precisará passar por uma série de provas, entre as quais muitos crimes horrendos contra pessoas indefesas, a fim de demonstrar que não pertence mais à raça humana e se tornou inimigo desta e das entidades que a protegem. É assunto de debate se aqueles que celebram este pacto tornam-se vampiros durante a vida ou após esta, voltando como monstros após sua morte natural.


Maldição devido a uma existência voltada para o mal: Uma antiga lenda universal conta que os primeiros vampiros teriam surgido no mundo quando pessoas que, embora não procurassem voluntariamente pelo demônio, praticaram tantos atos perversos em sua vida, e o fizeram voluntariamente, que a terra, que é sagrada, os rejeitou. Impedidos de voltar para o seio da mãe de todos nós para o descanso, vagam pelo mundo como forma de expiação, por um tempo cuja duração não se sabe. Talvez eterno. Desta lenda vem a tradição (por sinal, eficaz) de cravar uma estaca no coração, centro da vida, da criatura, a fim de prendê-la no seu túmulo. Antigamente, isto era seguido de uma oração de súplica às antigas deusas da terra pré-cristãs para que tivessem piedade do desmorto e daqueles que ele afligia e o acolhessem novamente, devolvendo-o ao ciclo da vida. Especula-se que a própria colocação de lápides nos cemitérios foi uma evolução de uma prática mais antiga de colocar pedras sobre os túmulos para impedir os mortos de levantarem. Não se sabe se esta forma de surgimento espontâneo ainda ocorre nos dias de hoje.

Sedução e corrupção por um vampiro mais antigo: Tal qual muitas vezes ocorre com jovens levianas e homens mais velhos, ocorre também de um homem ou mulher natural, ao terem determinada quantidade de sangue roubada que lhes signifique a morte, levantarem-se como vampiros após a sua morte. Ou então, em caso de suas veias terem servido muitas vezes para aplacar a sede monstruosa dos desmortos, tornarem-se vampiros ainda em vida. Neste último caso, no entanto, há uma esperança para o recém-amaldiçoado. Se o vampiro que dele se alimentou for morto antes do novo vampiro beber pela primeira vez o sangue de um homem ou mulher vivos, então a maldição estará retirada e a vítima reverterá à sua condição de vivente. Tal coisa não ocorre da mesma maneira com aqueles que morreram antes da transformação e depois se levantaram. Como já estavam mortos, este procedimento apenas lhes dá a paz do túmulo. Esta forma de aparecimento de um vampiro é um fenômeno raro, pois para que ocorra é necessário que se cumpram três condições: 1 – O vampiro original tem que desejar que a vítima morta se levante,  2 – O cadáver da vítima não deve passar por nenhum ritual de purificação realizado por um sacerdote sincero, em caso de morte, 3 – A vítima, embora este ponto seja controverso, deve também desejar a sua condição de desmorta em algum momento, ou, no mínimo, fraquejar e render-se aos poderes das trevas, aceitando a sua nova condição.  Não são de todo desconhecidos, porém, os casos em que o cadáver de uma vítima, abandonado sem nenhuma atenção especial por parte daquele que lhe roubou a vida, voltou como um vampiro espontanemante. Não há explicação conhecida para este fenômeno, e, como consolo, serve saber que, dentro da rara presença de tais monstros no mundo, ele é um evento raríssimo.

Sobre as peculiaridades do cadáver que se levanta sob a forma de vampiro, sabe-se o seguinte:
Tais corpos não possuem um comportamento natural sequer enquanto matéria. Embora as peculiaridades variem segundo o indivíduo, são traços comuns uma certa eterealidade, posto que não podem ser feridos por nada que não seja ou não tenha sido vivo em algum momento. De tal forma que metais e pedras não lhes causam nenhum mal, e comumente atravessam seu corpo tal qual ele não fosse mais do que uma miragem quando usados para golpeá-los. São vulneráveis a pauladas,  golpes de mãos nuas e ataques de animais porque todas estas coisas advém de criaturas vivas ou que já viveram. Sua resistência, quando atacados desta forma, raramente é maior do que a de um ser humano com as mesmas proporções. Este caráter étereo varia bastante, e há lendas bastante conhecidas sobre vampiros que seriam capazes de atravessar paredes e outros obstáculos sólidos tais e quais estes não existissem, bem como outros que seriam sólidos como o homem que escreve este códice. É assunto de debate se eles o fazem movendo-se como fantasmas sem corpo ou se, de alguma forma, conseguem alterar suas dimensões a tal ponto que atravessam praticamente qualquer fresta que se lhes apresente.
Outro traço bastante comum à existência dos desmortos é a sua aversão à luz solar. São raros os casos em que apenas a incidência do sol sobre sua pele basta para reduzí-los à cinzas, mas a luz solar sempre lhes é dolorosa, desagradável, limita seus poderes, os enfraquece ou os cega. Por isso, a maioria dorme durante o dia e caça suas presas á noite. Embora casos de ataques diurnos, ainda que raros, não sejam de todo desconhecidos, como, por exemplo, na situação de um vampiro faminto e desesperado cuja única possibilidade de obtenção de sangue é enquanto o sol brilha.
A privação de um suprimento adequado de sangue traz conseqüências ruins para estes seres. Eles se tornam fracos, perdem seus poderes, e sua aparência degenera, embora lentamente, em alguns casos. Alguns deles simplesmente parecem adquirir o aspecto de anciões cada vez mais velhos, até que finalmente não se parecem mais com seres humanos, outros, depois de algum tempo, começam literalmente a apodrecer, inchando, exalando mau-cheiro e depois secando, até restar apenas a imagem de ossos com restos de carne ressequida grudados. Esta aparência frágil, no entanto, não significa que tenham se tornado completamente inofensivos. Eles sempre são, pelo menos, duas vezes mais fortes que um homem normal, além de nunca poderem ser atingidos pelas armas às quais são imunes (exceto em um caso, que se verá adiante).
Quando bem nutridos de sangue rejuvenescem, adquirem uma maior vitalidade e energia em suas ações, mantém seus poderes e não raro se tornam belos, com a aparência de jovens radiantes, mesmo que tenham morrido em sua primeira vida como velhos.

Alguns traços físicos característicos dos vampiros: os dentes caninos superiores sempre são proeminentes, e crescem ainda mais em alguns momentos com a finalidade de perfurar a pele das vítimas. Os olhos brilham como os de gatos no escuro, e emitem uma luz avermelhada em momentos de grande excitação. Sua pele é sempre mais pálida que a de uma pessoa normal,  e às vezes pode-se ver luzes fortes através deles, isto ocorre principalmente quando a característica da eterealidade é muito intensa e presente. Unhas compridas e afiadas, com a semelhança e funcionalidade de garras de animais são freqüentes. Alguns vampiros possuem aparências bem peculiares, podendo ser identificados como tais por qualquer um que entenda do assunto – caninos ou outros dentes anormalmente e permanentemente longos, dedos extremamente curtos com unhas extremamente longas e antinaturalmente retas, presença de pêlos em lugares inadequados (como as palmas das mãos ou o pescoço) ou ausência dos mesmos onde seriam mais comuns.

Outros poderes dos desmortos: entre os poderes que foram cotados entre os vampiros encontram-se a habilidade de suprimir a vontade de outras criaturas vivas com um olhar  ou uma palavra, o controle de animais com o pensamento, o comando dos elementos da natureza, a metamorfose completa em alguns animais (normalmente predadores violentos ou disseminadores de pragas) , a metamorfose parcial, resultado em os mesmo serem capazes de assumir formas de criaturas híbridas (como um morcego com o tamanho e o rosto de um homem, ou um lobo imenso e bípede, com mãos quase humanas, e sem rabo), a já citada capacidade de atravessar obstáculos tangíveis, a também já citada força física superior, ter o corpo fechado para certas armas,  e, é claro, um grande magnetismo sexual que, quando presente, é usado para atrair vítimas. Muitos outros poderes já foram cotados, entre os mesmos alguns sinais de sua passagem que hesita-se em classificar como poderes, posto que não se sabe se há algum controle sobre estes últimos: por exemplo, há quem diga que, em lugares por onde um vampiro passa a comida estraga, os animais ficam agressivos ou doentes, e não raro a peste se espalha, praticamente imune a qualquer tentativa de cura pela ciência ou pela religião. São conhecidos casos de vampiros praticantes de magia (o que é bastante razoável, posto que uma das formas possíveis de transformação é o pacto com as forças das trevas, cujo contato com as mesmas, quando voluntário, pressupõe o conhecimento de palavras de poder e locais propícios para a evocação de demônios) e isto lhes dá uma gama ainda maior de poderes que podem ser discutidos num volume adequado sobre o uso de artes ocultas por praticantes do mal.

Não se pretende dizer aqui que todo o vampiro existente possua todos os poderes relacionados acima. O dom das trevas é diferente para cada um, disse o espectro de um jovem aristocrata sodomita, feito vampiro, orgulhoso de sua capacidade de projetar-se no ar como um pássaro, pouco antes de descer sobre o autor deste códice com as presas à mostra, que o aguardava com uma lança de madeira sob o manto. In pace requiescat.
Os poderes de um vampiro parecem estar relacionados com duas coisas: que tipo de talentos o ser humano que ele já foi tinha em vida e que tipo de crimes e ofensas à criação ele cometeu. Logo, homens violentos, propensos a brigas desnecessárias e humilharem os mais fracos normalmente, ao se levantarem do túmulo, possuem a capacidade de se transformar em um imenso cão feroz. Mulheres impuras, prostitutas e adúlteras em geral, ao se erguerem como vampiras, podem escravizar homens tal qual fazem as succubus – através de seus desejos – e pôr sob sua servidão, desta forma, o próprio alcaide de uma cidade. (Não é de se espantar que tantos homens que sempre foram bons, ao assumirem o poder em um reino ou principado, que lhes cabe por herança ou alguma outra forma de mérito, acabem por se tornar, muitas vezes, tiranos desarrazoados. Mais de um destes casos pode se dever à influência secreta de uma vampira) Poderes maiores, como a capacidade de evocar o nevoeiro e as tempestades, parece que só surgem nas garras daqueles que foram em vida grandes e cruéis senhores, cujo prazer de exercer o poder superou o dever de exercê-lo com sabedoria.
Desta feita, somente (e justamente) as pessoas que praticaram em vida quase toda a sorte de maldades é que se transformam nos vampiros mais poderosos.

Outras fraquezas dos desmortos: o número de exemplos conhecidos e citados é enorme, e variam de acordo com a região e os relatos apresentados. Além da luz solar, que já foi citada, há também uma espécie de terror sobrenatural que pode surgir quando confrontado com imagens de Cristo e dos Santos ou mesmo diante de ídolos pagãos cultuados por selvagens e símbolos de outras crenças (embora seja penoso para a fé deste que escreve admitir isto, ele já o comprovou pessoalmente). O que exatamente é temido por eles aqui nunca ficou claro, pois já houve casos do mesmo vampiro, em ocasiões diferentes, fugir ante a visão de uma Cruz e estraçalhar seu portador enquanto a esmaga com o pé.
Certos vegetais, segundo dizem, podem afastá-los, como o alho, os cravos brancos e as rosas vermelhas, assim como certos animais, como os coelhos, cães de olhos claros e gatos negros de olhos verdes. Não há certeza sobre estes pontos.
A peculiaridade destas variações me leva a crer que haja uma íntima relação entre o que é visto como sagrado e benéfico na região que o desmorto assombra e o que pode lhe causar mal.
Grandes viagens sobre a água lhes são proibidas por seus próprios meios, é necessário que sejam carregados pelo barco de outrem. Da mesma forma, se residirem em algum lugar, não podem forçar fisica e pessoalmente um homem ou mulher a adentrar  seu lar.  Devem contar com a ajuda de servos ou então conduzir,  valendo-se meios ardilosos,  a vítima para dentro. O reverso vale sobre a moradia alheia – dificilmente um vampiro consegue adentrar o lar de alguém que se oponha violentamente a isto. Alguns lares lhe são abertos, como os de pessoas pecaminosas e malévolas, nos quais entram com mais facilidade, ou aqueles em que há alguém que deseje intensamente sua entrada. Mas em casas de pessoas decentes é impossível a entrada que não seja precedida de um convite expresso.
O efeito dos anos: vampiros envelhecem se não beberem constantemente sangue de mortais, de forma que, com o passar dos anos, a necessidade de sangue se torna mais imperiosa, pois os efeitos negativos da privação são piores. Além disso, é fato que desmortos muito velhos acabam por vezes por se modificar em aparência e em modos. Alguns lembram tão pouco seres humanos que precisam se esconder da vista de todos para evitar a atenção daqueles que conhecem sua existência e tentam destruí-los. Assim como há outros que vivem por séculos mantendo a beleza que tinham em vida,  enquanto houver vidas inocentes para alimentá-los.



Destruição dos desmortos: a maneira mais segura de matá-los é atingir seu coração ou outro ponto vital, tal qual o cérebro, com algum instrumento afiado de madeira, de osso ou algum outro material que tenha pertencido a uma criatura viva. Xamãs selvagens fabricam armas próprias para lidar com estes monstros usando patas e dentes de animais selvagens caçados e abatidos ritualisticamente com este propósito.
No entanto, esta não é uma morte permanente. Equanto restar algum fragmento do cadáver, mesmo que seja apenas um punhado de cinzas, ele poderá voltar a vida se algum outro vampiro ou servidor realizar um ritual adequado, no qual o sangue de sete virgens sacrificadas é vertido sobre as cinzas durante a celebração de uma Missa Negra. Para garantir que não ocorra esta ressurreição profana algumas providências podem ser tomadas: dar a benção aos restos mortais e orar sinceramente por sua salvação, decapitar o corpo (que pode ter se tornado tangível quando a estaca foi cravada), queimá-lo, purificá-lo com alho, deixar as cinzas expostas ao sol ou deitá-las nas águas límpidas de uma corrente natural.
O fogo também pode ferí-los, e muito, quando em grande quantidade, mas é raro que isto baste para causar a morte, exceto em casos extremos, como ocorreu recentemente nesta cidade.
Como adendo, seguem-se os lugares onde este mal foi mais avistado, vampiros conhecidos que ainda não foram postos para descansar, com ilustrações correspondentes,  orações adequadas para evocar a ajuda de Deus, dos Santos e até mesmo de antigas divindades pagãs contra este mal. Relatos verdadeiros escritos pelos homens que os enfrentaram e sobreviveram ou por aqueles que testemunharam a presença desta cria do demônio.
Testemunho por minha fé que tudo o que escrevi até aqui é verdadeiro. Possa este códice permanecer inteiro até o momento, e se este momento chegar, em que seja necessário purificar novamente um lugar deste mal, como recentemente nos vimos obrigados a fazer.
Não permita o Bom Deus que isto ocorra novamente.


                                               Frei Michael Bancroft

Londres – ano da graça de Nosso Senhor de 1666


(o restante das páginas foi arrancado)


Dica para o mestre: após criar uma trama em que vampiros vivendo secretamente na cidade estão se alimentando de pessoas e dando cabo àqueles que suspeitam de sua existência, copie e imprima o texto e dê aos PCs para ler, aumentando a dose de interpretação e realismo do jogo.
 



 FEITO POR: Luiz Hasse
 E-mail: luizfalkenstein@hotmail.com


Um comentário:

  1. Pequena correção: "...abordado POR um investigador..." e não "sobre". Foi mal aí. - Luiz Hasse

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