segunda-feira, 29 de agosto de 2011

conto - O DRAGÃO E A FEITICEIRA parte 2


      Boa tarde pessoal, a segunda parte deste conto era para ter sido postada ontem, mas fiquei o final de semana sem o computador então só pude fazer as postagem hoje.    Outra coisa que eu vim avisar é que em vês de dividir o conto em duas partes eu decidi dividi-lo em três partes, a ultima será postada domingo que vem. 

III


            Antes que raiasse o dia, o vigia da muralha externa frontal do castelo, que seria substituído ao amanhecer, adormeceu. Não caiu no sono gradualmente nem se deitou, preguiçosamente. Simplesmente, em um instante, sua mente estava desperta e, no outro, vagava pelo reino dos sonhos, embora seu corpo continuasse em pé e seus olhos continuassem abertos. E, enquanto ele assim esteve, uma sombra ágil aproximou-se da muralha e, encaixando os dedos e pés nas frestas da rocha, escalou-a até o topo e, apanhando as chaves do vigia adormecido, desceu pela escada interna até o pátio.
            De lá foi para o portão do edifício principal e, ao se aproximar dele, os guardas que estavam postados de sentinela ali, adormeceram da mesma forma antinatural. Ele abriu a porta e, pelo salão principal, entrou no castelo, com passos silenciosos percorrendo salões decorados com tapeçarias, prata e ouro.
            Foi assim que Marcus, auxiliado por magia, chegou ante as portas do quarto do Senhor do Castelo, que lá dentro dormia e onde, dissera-lhe a feiticeira, guardava a jóia, próxima de si.
            A porta estava trancada e seria improvável que qualquer um, exceto o próprio Senhor, tivesse a chave. No entanto, era uma porta comum, embora ricamente trabalhada, e podia ser aberta pelo modo dos guerreiros. Desembrulhou sua espada e preparou-se.
            Marcus ergueu a perna e chutou e empurrou num só gesto, com toda a força, enquanto a fechadura saltava pelo piso de pedra, tilintando.
            Esperava encontrar um nobre adormecido em seu leito, dada a hora do dia. Mas sua surpresa foi esta:
            O Senhor do Castelo estava sentado numa cadeira, diante do fogo aceso de seu próprio quarto, e meditava com a cabeça apoiada no cabo da espada que segurava em pé diante dele. Sobre a lareira, estava a jóia.
            Era vermelha como o sangue e parecia ter luz própria. E em seus olhos havia tanto fascinação como um estado de alerta permanente. Que tipo de sonho sonhava ele, acordado, diante de um objeto de poder de eras antigas?
            Marcus nunca soube. Tão logo o percebeu, o nobre que governava aquelas paragens gritou com fúria e medo, e postou-se entre ele e o objeto que vinha buscar, brandindo a espada e pronto para o combate.
            O cavaleiro não pretendia matá-lo, apesar de, pelo que a feiticeira lhe havia dito, ele ter assassinado um pobre velho para roubar seu tesouro e impressionar os sacerdotes. Ainda se sentia mal por penetrar em casa alheia, como um ladrão, dissesse o que ela dissesse. E por isso tentou apenas desarmá-lo com um choque de lâminas.
            No entanto, a Jóia Sagrada não era o único objeto de poder que havia ali. A espada do nobre emitiu um brilho súbito quando as lâminas se tocaram e a do cavaleiro partiu-se em duas. Em seguida, o jovem nobre tentou decepar-lhe a cabeça de um só golpe, e havia sede de sangue em seu olhar. Num misto de reflexo e sorte, o cavaleiro abaixou-se e evitou o golpe. Então, aproveitando a posição em que estava, antes que o inimigo se recuperasse da violência do próprio golpe, ele projetou-se em direção a sua cintura e o abraçou, fazendo com que suas costas batessem com força contra a parede de pedra atrás.
            Contra alguém tão próximo, uma espada longa é quase inútil. E o nobre, embora fosse forte e estivesse furioso, era jovem e menos experiente, e estava atordoado pelo baque. Mantendo o corpo colado junto ao dele com um braço, o cavaleiro golpeou-o com a outra mão três vezes no flanco. A espada caiu ao chão, enquanto o nobre desfalecia por um breve instante. O cavaleiro a tomou sem pensar no que fazia, apenas porque sua arma fora quebrada.
            Ao fazê-lo, porém, sentiu o poder que emanava daquela arma irradiar-se através de seu braço e fazer seu corpo vibrar e soube que, se um guerreiro um pouco mais treinado estivesse empunhado aquilo no momento em que chegara ao quarto, teria sido seu fim.
            Ouvia os guardas no corredor se aproximando. Arrastou a cama do nobre contra a porta e bloqueou-a.
            Estava terminado de fazer isto quando escutou atrás de si que o inimigo se recuperara. Estava em pé e havia tomado com a mão direita a jóia que repousava sobre sua lareira. Parecia ter se esquecido dele. Com a outra mão, pressionava uma das pedras da parede mais distante da porta, e esta afundava no meio das outras.
            Um instante depois, um pedaço da parede deslizava para o lado, revelando uma escura escadaria descendente. Os nobres tinham estes truques em seus castelos. Passagens escondidas para o caso de cercos prolongados ou a necessidade de assassinar alguém que dormisse num de seus quartos. O cavaleiro pretendia tomar o Senhor do Castelo como refém para se retirar, mas fugir por um lugar secreto era tão bom quanto.
            Marcus deu-lhe a dianteira e partiu em seguida, correndo atrás de seus passos, apenas tendo o cuidado de pegar uma acha de lenha da lareira, pois o outro, em sua loucura, partira no escuro.
            Correndo e descendo a escadaria, que girava em espiral ao redor de uma coluna, num corredor sem janelas e com um cheiro desagradável, passado um tempo que não soube precisar, o cavaleiro ouviu o ruído de um corpo tombando e rolando.
            Instantes seguintes, onde a escadaria terminava, o Senhor do Castelo jazia morto. Nos últimos degraus da escada, caíra e quebrar o pescoço. Sua mão direita ainda segurava a Jóia, que brilhava sem iluminar o ambiente ao redor, e em seguida, se apagava.
            Aquilo entristeceu deveras o cavaleiro. Era um ladrão e um assassino de boa família que morria, mas ainda assim parecia morrer sem razão nenhuma, apenas por um capricho do destino, e não como uma punição ou parte de um propósito maior.
            Era apenas uma morte feia e indigna.
            Embora sua fé nos sacerdotes nunca mais fosse a mesma, Marcus ainda mantinha alguma crença nos deuses. Ajoelhou-se ao lado do cadáver e orou por ele, pedindo que fossem perdoadas as suas faltas e que ele fosse recebido nos salões de seus antepassados em paz, fazendo a travessia sem maiores contratempos. Depois, não sem um pouco de vergonha, tomou-lhe a Jóia da mão e se levantou, resoluto.
            A escadaria, que descera sabe-se lá por quanto tempo, terminava numa passagem retilínea, estreita, plana e sem janelas. Provavelmente subterrânea. E, como era o único caminho a seguir, Marcus o tomou.
Sua tocha apagou antes que chegasse ao fim dela. A Jóia não brilhava com ele. E ele não sentia nada de especial ao tocá-la. Parecia-lhe apenas o objeto de uma cobiça mesquinha, embora se dissesse que era sagrada e que poderia ser usada com uma intenção elevada.
Tateou pelas paredes até ouvir o ruído de água e vislumbrar luz. A passagem terminava numa pequena caverna, cuja entrada era coberta por uma cortina líquida e cristalina. O cavaleiro atravessou-a e emergiu do outro lado de uma pequena cachoeira.
Já era dia claro. Estava num bosque.
Ali, à beira do riacho que ela formava, estava a Feiticeira. À luz do dia, com seus trajes diáfanos e sentada despreocupadamente à beira d’água, mergulhando os pés nus, ela lhe pareceu mais bela do que nunca. Parecia sequer estar ciente da presença dele, mas ele sabia, ou melhor, sentia, que ela o esperava. Talvez com ansiedade.
-Tu pareces sempre saber onde estou, minha dama. Mas isso já não me surpreende. Tua magia é poderosa. Eu jamais teria entrado no castelo sem ela.
Ainda sem voltar os olhos para ele, ela sorriu:
-Terás como me agradecer depois de tua luta contra a fera. E ela não está longe de nós, agora. Se a sorte nos favorecer, terás também tua recompensa. Os covis dos dragões estão cheios de ouro.
O cavaleiro se aproximou dela e estendeu-lhe a Jóia. Ela a tomou com um sorriso, mas em seguida, seus olhos voltaram-se para a mão que segurava a espada e ela parou de sorrir.
-Conseguiste uma arma superior à que tinhas.
-Fiz mal?
O sorriso voltou:
-Não. Com a espada que tens agora, a sorte na batalha pende para o teu lado.



confiram a parte 1 aqui 


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