Cultura pop, estereótipos (e nostalgia?)
Originalmente foi usada pra se referir a deslocados sociais em grupos juvenis, em função de predileção por atividades intelectuais ou gostos diferenciados, associado com desempenho ruim nos esportes, pouco sucesso com o sexo oposto ou qualquer outro tipo de déficit de habilidades e competências que significam mais status entre os jovens (e entre pessoas de outras idades também).
Analisando as características associadas com o estereótipo, com o tempo, surgiu uma interpretação positiva do termo. Afinal, o nerd é mais capaz intelectualmente e mais individualista, tendo seus próprios gostos escolhidos de forma autêntica, e não por conveniências sociais. Ser inteligente e senhor de si deve significar mais força de personalidade, e não menos.
Ser nerd é uma coisa legal, né?
Teoricamente.
O problema é que a “nerdice” vem deixando de ser isso pra virar o modelo de mais uma tribozinha urbana com uma cartilha própria de comportamento e a repetição do velo padrão de excluir gente de outros grupos.
O problema é que a “nerdice” vem deixando de ser isso pra virar o modelo de mais uma tribozinha urbana com uma cartilha própria de comportamento e a repetição do velo padrão de excluir gente de outros grupos.
Hoje qualquer imbecil viciado em videogame, anime, mangá, seriados, internet e que joga RPG esporadicamente fica se achando especial (Calma, patrulha, eu não disse que quem tem esses gostos necessariamente é um imbecil. Mas há imbecis em todas as fileiras…). Ele não é necessariamente mais inteligente ou intelectual (às vezes nunca leu um livro na vida) e também NÃO está exatamente “torcendo o nariz” pras regras da sociedade, uma vez que ele apenas achou seu nicho nela e se sentou nele confortavelmente.
A aceitação da palavra nerd como um cumprimento fraterno está vindo justamente com uma degeneração do que o termo significa (ou significava): alguém que se põe meio à parte do círculo social convencional devido a preferências de entretenimento pouco comuns e/ou à predileção por atividades intelectuais em detrimento de outras. Esse tipo de indivíduo é cada vez mais raro e, por incrível que pareça, raramente se definia como nerd quando o termo surgiu, porque não via o mundo através de rótulos. Ele estava um pouco fora das rotulações, ou por não conseguir se encaixar no que o meio social esperava dele ou então por meio que dizer “foda-se” pra tudo isso.
Hoje essa palavra se refere mais a seguidores de modinhas do que a qualquer outra coisa.
Algo que vinha, no passado, na contramão da aceitação de regras e da exclusão de quem não se encaixa está justamente reproduzindo esse padrão de sempre.
Alguém que busca voluntariamente reproduzir um estereótipo como exercício de identidade é uma pessoa BEM DIFERENTE do intelectual socialmente desajustado ou do sujeito com preferências autênticas que, paradoxalmente, deu origem a esse mesmo estereótipo.
Que fique bem claro: a nostalgia não é da exclusão (até porque ela não deixou de existir –os preconceitos não morrem, eles se adaptam – sai de “Tu um nerd, hahaha!” pra entrar em “Tu não é nerd o suficiente/ Tu não é nerd de verdade!” ) e sim da sinceridade da coisa.
Aliás, pra ser sincero, não chega a ser nostalgia, mas sim o desencanto oposto: a sensação de que, no fim, muito pouco ou nada mudou.
Há quem diga (e não recordo o nome) que o mundo tem que se transformar para permanecer como sempre foi.
Mas, enfim…
Feito por Luis Hasse e publicado originalmente em : http://triscedecofobia.wordpress.com/
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